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90% dos fundos ‘normais’ perdem para ETFs de índice no longo prazo

Quer escrever um best seller de finanças e se mudar para as Maldivas? Morgan Housel, que já vendeu 5 milhões de exemplares em mais de 50 idiomas, tem uma dica para você. 

O autor de “A Psicologia Financeira” aponta que o melhor livro possível para o investidor deveria se chamar “Cale a Boca e Espere”. Teria apenas uma página, com um gráfico de crescimento econômico de longo prazo.

Housel é um dos muitos entusiastas dos ETFs de índice, em detrimento de escolher ações a dedo em busca da nova Nvidia (que subiu mais de 500% nos últimos 12 meses), ou de pagar para que gestores de fundos escolham papéis por você.

Só para lembrar aos menos íntimos das siglas financeiras (se não for o seu caso, pule este parágrafo): ETF é a sigla em inglês para “Fundo Negociado em Bolsa”. Compre um, via home broker, e o seu dinheiro fica pulverizado em dezenas, centenas ou milhares de papéis que compõem algum índice. Ou seja: um ETF “segue” determinado índice.

O BOVA11, por exemplo, sobe e desce de acordo com as 86 ações que compõem o Ibovespa hoje; IVVB11 segue como um cãozinho as 500 companhias do S&P 500; o Vanguard Total Stock Market (VTI), 3.693 papéis – quase todas as ações negociadas na Nyse e na Nasdaq.

E aqui está a essência do “Cale a Boca e Espere”, o livro-piada de Housel: um bom índice simplesmente replica o crescimento econômico – seja o local (caso do Ibovespa) seja o global (que o S&P 500 e o VTI replicam melhor).  

Investir em um ETF de índice é, de certa forma, um exercício de humildade. Colocar suas fichas no mercado todo significa necessariamente não aproveitar foguetes como a Nvidia é hoje lá fora, e a Magalu já foi por aqui (1.000% entre 2018 e 2020). 

Por outro lado, você fica protegido de tragédias como a queda de 93% da mesma Magalu (vale lembrar que, para recuperar um tombo de 93% um papel precisa subir 1.350%…). 

Para dar uma ideia melhor. O desempenho de MGLU3 depois da montanha russa toda, contando de janeiro de 2018 até março de 2024 soma -23%. O do Ibovespa (e, por consequência, dos ETFs que acompanham o índice), 62%. 

Fato é que a relativa estabilidade dos índices ante a exuberância irracional de papéis solitários faz com que a imensa maioria dos fundos perca para eles no longo prazo (mais sobre isso adiante).

Bom, os ETFs de índice mais populares pelo mundo são os que acompanham o índice mais importante do planeta: o S&P 500 – inclusive no Brasil, onde o IVVB11 lidera o ranking de ETFs com mais cotistas. 

Existe um motivo básico, aliás, para a preferência nacional pelo índice gringo, como vamos ver agora. 

 

O poder do S&P 500

Nos últimos 40 anos, em apenas sete o desempenho do S&P 500 foi negativo (a última vez, em 2022). Nesse intervalo, o retorno médio do índice, que acompanha as 500 maiores companhias das bolsas americanas, foi de 11% ao ano – em dólar, claro. 

E é aí que mora a razão do amor do brasileiro pelo IVVB11. Exposição cambial, na letra fria das finanças, é um risco. Verdade. Mas num país onde guarda-se dólar no armário como forma de poupança, isso exposição ao dólar acaba contando hedge. 

Essa aposta tem se pagado, diga-se. Nos últimos 10 anos, o ETF gringo SPY, que segue o S&P 500 em dólar, subiu 179%. O IVVB11, em reais, 293%. Claro: o dólar estava na casa dos R$ 2,30 em 2014. Agora, você sabe, ronda os R$ 5. No mesmo período, o rendimento do BOVA11 (que segue o Ibov) ficou em 123%. 

O que traz à mente a frase lapidar de Warren Buffett: “Never bet against America”.

 

E nunca aposte contra ETFs…

A grande característica de um ETF é não sofrer interferência humana. Se a Vale tem peso de 12% no Ibovespa, 12% do dinheiro que você colocar em BOVA11 vai para Vale – faça chuva ou faça sol para a mineradora. Não haverá uma pessoa ali pensando se VALE3 está ou não está num bom momento. ETFs são fundos de “gestão passiva”, no jargão. 

Já os fundos normais, dos bancos e corretoras, têm gestão ativa. Alguém escolhe os ativos que vão entrar ali. A razão de existir dos fundos ativos é tentar “bater o mercado”. Isso significa colocar um benchmark, uma referência, como alvo, e ter como referência fazer mais dinheiro do que ela. E o benchmark dos fundos de gestão ativa são justamente os grandes índices – S&P 500 lá fora, Ibovespa aqui. 

Vamos falar daqui. Um ótimo parâmetro para o desempenho dos fundos ativos é a Scorecard, uma análise produzida pela S&P Global. Para o Brasil, ela mostra o seguinte: numa janela de um ano, 76,0% dos fundos rendem menos que o benchmark. Numa de 10 anos, 92,3%. Ou seja: quase ninguém consegue fazer mais do que um ETF de índice no longo prazo. 

Nos EUA, é basicamente a mesma coisa. Veja:

Em 1 ano: 59,6% dos fundos ativos perdem para o S&P 500

Em 3 anos: 79,8%

Em 10 anos: 87,4% 

Não é só isso: as taxas dos ETFs também são mais baixas que as dos fundos de gestão ativa. O IVVB11, por exemplo, cobra 0,23% ao ano. Nos de gestão ativa, são comuns taxas de 3%. 

Faz mais diferença do que parece. Se o seu “saldo médio” num ETF ao fim de 10 anos tiver sido de R$ 100 mil, isso vai significar 0,23% aa, significam R$ 2,3 mil gastos em taxas. A 3%, R$ 26 mil.      

Pois é. Apostar contra ETFs, e ganhar, é coisa para poucos e bons. Como Warren Buffett. Sua companhia de investimentos, a Berkshire Hathaway, faz 20% ao ano desde 1965. O dobro do retorno histórico do S&P 500.

Mesmo assim, o bom velhinho já disse: quando morrer, 90% da herança que deixará para a família estará na forma não de ações da Berkshire, mas na de algum ETF de S&P 500 – de preferência, um que cobre taxas bem baixinhas.